Michel Temer sepulta a política.

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Temer
fez o que ninguém conseguiu: transformou a Presidência da República em
instituição menos confiável até do que os partidos políticos. Pesquisa
inédita do Ibope revela que, de 0 a 100, a confiança dos brasileiros no
presidente despencou de 30 para 14, desde 2016. Pela primeira vez, é
menor do que a confiança nos partidos. De fato nada é menos confiável
aos olhos da população hoje do que quem ocupa a Presidência. E esse nem é
o pior problema detectado pelo Ibope.
No
último ano, a desconfiança na política em geral bateu todos os recordes
– segundo a edição 2017 do Índice de Confiança Social, que o Ibope
pesquisa e calcula anualmente desde 2009. Do governo federal às
eleições, passando pelo Congresso e pelos partidos, a confiança em quase
todas as instituições políticas despencou desde 2016, com exceção dos
(recém-eleitos) governos locais. A maioria delas chegou ao seu ponto
mais baixo em 2017.


é ruim o suficiente porque mostra que, ao contrário do que dizem os
políticos, as instituições que eles comandam não estão funcionando – não
aos olhos de quem os elege. Mas nem é o tamanho inédito da descrença da
população nas estruturas que exercem o poder que mais preocupa. Quando
se compara a outras instituições, percebe-se que a crise de confiança
não é generalizada. Ao contrário, ela tem foco e sujeito determinado.

Em
2009, a confiança nas instituições políticas era 15 pontos menor do que
a confiança média nas demais instituições: 48 a 63. Oito anos depois, a
desconfiança na política dobrou, e a no resto ficou praticamente
estável. O processo começou com os protestos de junho de 2013, se
aprofundou com o impeachment de Dilma e chegou a seu ápice com Temer. Em
2017, o “gap” de confiança nas instituições que envolvem políticos – em
relação às demais instituições – chegou a inéditos 35 pontos: 25 a 60.

“Com
o descrédito da política, as pessoas estão se apegando na fé e na
polícia. Ou seja, nas instituições cuja percepção majoritária da
população é que estão fazendo algo para melhorar”, diz a CEO do Ibope
Inteligência, Márcia Cavallari.

De
2016 para 2017, a confiança média no conjunto das seis instituições
políticas (governo federal, eleições, Congresso Nacional, partidos
políticos, presidente e governos municipais) caiu 15%. Ao mesmo tempo, a
confiança nas outras 14 instituições subiu, em média, 8%. Entre as mais
confiáveis aparecem igrejas (subiram de 67 para 72), Polícia Federal
(de 66 para 70), Forças Armadas (de 65 para 68) e meios de comunicação
(de 57 para 61).

Projetando-se
esse descompasso de confiança para as eleições presidenciais de 2018,
percebe-se onde eventuais candidaturas-surpresa – e até pretensos
salvadores da pátria – poderão se apoiar. Não há transposição direta de
confiança de instituições para pessoas. Nem todo padre ou pastor será
automaticamente um favorito na corrida presidencial. Mas terão
influência.

O
mesmo vale para militares (vide o crescimento da intenção de voto em
Bolsonaro) e policiais federais. E promotores? A confiança no Ministério
Público ficou estável em 54 pontos. É maior do que nos políticos,
sindicatos e na Justiça em geral, mas menor do que nos bombeiros,
policiais e até nos bancos.

Indubitável
mesmo pela pesquisa é que quem estiver ligado ao governo federal ou
umbilicalmente conectado ao presidente terá muito mais dificuldade para
se eleger do que quem estiver contra ele. A falta de manifestações de
rua expressivas e de penelaços pode dar a falsa impressão a deputados e
partidos governistas de que sustentar Temer no poder não lhes custará
tão caro assim. O auto-engano é sempre um atalho para o suicídio
político.
Origem> O Estado de S.Paulo.

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