O percurso do Sisal em Santa Terezinha. Raízes da nossa história.

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O sisal foi a base da economia de Santa Terezinha e do seu crescimento nos anos de 60 a 80. A exploração do sisal começou nos anos 40 na região, tento Teixeira-PB como um destaque na época. A exploração da vibra do agave só chegou a Santa por volta dos anos de 50.  Seu solo favorável ao cultivo rendeu trabalho as famílias e 12 anos depois, por volta de 1962, tivemos uma pequena produção, mas que de certa forma ajudou nossa gente a se fixar nessa terra. 

Sisaleira de Seu Afonso e de Seu Anizio em Santa Terezinha.
O contingente de trabalhadores do sisal em Santa Terezinha cresceu e o auge da produção foi nos anos 70, onde dentro do município haviam cerca de 60 motores de agave ‘rodando’ o dia inteiro na produção, que era comercializada na feira livre. Essa produção chegava a cerca de cem mil quilos, ou mais, por semana e empregava cerca de 500 pessoas, o sisal então tornou-se a base do sustento das famílias locais naquele tempo. Ainda nos anos 70 Seu Afonso Ferreira e Seu Anízio instalaram a primeira beneficiadeira de agave e em 1983, seu Arôdo Romão e Evaldo Machado instalaram a segunda.
Toda a produção do sisal de Santa Terezinha era transportada; parte para Teixeira, parte para Campina Grande e parte para João Pessoa, todas na Paraíba. Lá, era benficiada novamente e depois exportada para a Europa. Foram pelo menos uns dez anos de produção até o ciclo do sisal começar a se fechar, isso já no final dos anos 80 e começo dos anos 90. 

Nesse período os resíduos do petróleo começavam a entrar no mercado industrial, como o plástico, principal mercadoria responsável pelo enfraquecimento do sisal, já que as cordas, tapetes, vassouras e outros produtos derivados da fibra do agave, foram substituídos pelos derivados do petróleo.

Naquele tempo não era apenas as sinsaleiras que geravam renda para as famílias Terezinhenses, se tinha a produção dos sacos de estopa. Santa Terezinha era forte na produção de farinha de Mandioca, rapadura, mamona e algodão. Não se sabe exatamente quantas Casas de Farinha se tinha naquela época em Santa, mas eram várias espalhadas na área do município. Quando o ciclo do sisal finalmente se fechou, a produção dessas manufaturas caíram também, até começar o ciclo da castanha, que é anual, a do sisal era semanal. 

A castanha de caju já chegou a produzir um milhão de quilos na nossa região, o que não se repetiu mais, principalmente, pela falta de chuvas e invernos irregulares. 


Curiosidades do tempo do sisal em Santa Terezinha.
No começo dos anos 80 quando o sisal predominava na Terrinha Santa, seu *Maninho Grande era o grande representante da Pitu na região, e Santa Terezinha uma grande consumidora do produto, pois onde se tinha um motor de agave ‘rodando’ ali pertinho se tinha uma garrafa de pitu aberta para os trabalhadores tiraram ‘o pelo da garganta’, além do grande consumo nos dias de feira. 

Seu *Edinho, como um bom vaqueiro, pedia a seu Maninho o Carro da Pitu para abrilhantar as grandes vaquejadas daquele tempo feitas por aqui, e o patrocínio era garantido. O Carro da Pitu marcou toda uma geração em Santa Terezinha animando as famosas Cirandas e ao término das festividades, se despedia com as canções do saudoso Zé Castor, entre elas, Chora Bananeira e a inesquecível Eu vou Embora. As duas disponíveis para ouvir logo a baixo.


O comércio do sisal não gerava renda apenas com a fibra do agave, a agropecuária era favorecida e Santa Terezinha é um município agrícola, pena que falta chuva, pena que falta água para o pasto e para o gado. Mas nos tempos pretéritos tinha um comércio que hoje quase não existe mais, o de jumentos, os quais eram as ferramentas do motor de agave. O motor, geralmente, ocupava três pessoas, duas ficavam no ‘cambito’ e outra carregava a fibra. A máquina para carregar a fibra era o jumento, a cangalha e o cambito, e havia comércio grande para todos os três.

Como dito, os anos 70 foi o tempo áureo do sisal, e então o agave chegou ao auge em 1973, quando o preço ‘estourou’. Quem trabalhava no agave ganhou dinheiro, a moeda era o cruzeiro na época. Foi o ano das camionetes, dentre elas a C10, carro a gasolina muito útil e que vários donos de motores de agave de Santa Terezinha e região conseguiram adquirir. Naquele tempo a gasolina era ‘barata’, mas do plano real para cá meus amigos, o produto ganhou status se super star, praticamente acabando com o comércio das famosas de 70.  

Foi o tempo também do fumo de rolo, ou de corda assim chamado na época, muito utilizado para fazer cigarros de palha e também para mascar. O inesquecível *Zé Fumeiro comprava grandes estoques para vender no meio de semana e nas feiras. Era comum que os trabalhadores de motores de agave fumassem naquele tempo, onde na feira livre se tinha uma corda feita da vibra do agave com a ponta acessa, ali você comprava o fumo de rola, fazia seu cigarrinho e acendia lá mesmo. 

Com o tempo apareceu o ‘cigarro desfiado’, dentre eles o Continental, chamado na época de “11 letras”.

No tempo em que a economia de Santa Terezinha era aquecida pelo sisal, os nossos trabalhadores usaram durante muito tempo Calças de Linhos, feitas pelas costureiras de então, cito aqui Dona Adalgisa, que tirava parte do seu sustento costurando para os operários da vibra do agave. Com o tempo, as primeiras roupas de fábrica começaram a aparecer, entre elas tinha uma camisa chamada de Volta ao Mundo. 

Para encerra esse breve relato sobre o percurso do sisal em Santa Terezinha, devo lembrar que com a produção de 1962, se havia a necessidade de se instalar energia elétrica, pois os motores do agave trabalhavam a óleo diesel, assim também as luzes da cidade. O motor ficava ligado só até às 10hrs da noite, depois era aquele breu. Só em 1965 que a energia elétrica foi instalada em Santa Terezinha, na gestão do Governador Paulo Pessoa Guerra e tínhamos como prefeito Seu Nozinho. Hoje a pouca produção do sisal é ligada ao artesanato, principalmente no Estado da Bahia, por aqui, a produção chegou a ”0″, infelizmente.



2 Comentários
  1. Unknown Diz

    Conteúdo riquíssimo!

  2. Aluce Ferreira da Nóbrega Diz

    Qual Santa Terezinha ? Santa Terezinha PB, PE outra Santa Terezinha ? Deu muita informação boa, mas no final fiquei sem saber onde era. Resido aqui em Patos PB e viajava muito passando por Santa Teresinha PB, na década de 60 e 70, mas não conhecia esse prédio.

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