Os militares no poder.

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Em
outros tempos, quem quisesse entender o poder no Brasil precisava ter à
mão o “Almanaque do Exército”. A publicação está voltando a revelar sua
utilidade nestes meses finais do governo Michel Temer.
Desde
o fim da ditadura, os militares não ostentavam tanta força em Brasília.
Eles ganharam espaço na Esplanada e estão dando as cartas na
intervenção federal no Rio. Em poucos dias, oficiais passaram a ocupar o
lugar de políticos no noticiário e no “Diário Oficial”.

O
precursor da tropa foi o general Braga Netto, novo governador de fato
do Rio. Ele instalou um colega, o general Richard Nunes, no cargo de
secretário de Segurança. Agora os dois mandam mais que Luiz Fernando
Pezão, eleito para governar o estado com 4,3 milhões de votos.

Na
segunda-feira, Temer entregou o Ministério da Defesa, que sempre esteve
em mãos civis, ao general Luna e Silva. Ontem foi a vez de o general
Santos Cruz ser promovido a número dois do novíssimo Ministério da
Segurança Pública.

O
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ofereceu uma explicação para o
fenômeno: “Governos, sobretudo quando não são fortes, apelam para os
militares”. Faz sentido, mas é preciso observar outras novidades no
front verde-oliva.

Anteontem
o Exército organizou uma despedida para o general Mourão, que ficou
famoso ao defender um novo golpe militar no Brasil. Ele passou à reserva
sob aplausos do comandante da Força, que fez questão de elogiá-lo no
Twitter.

“Todos
te agradecemos, amigo Mourão, os exemplos de camaradagem, disciplina
intelectual e liderança pelo exemplo”, escreveu o general Villas Bôas.
Na cerimônia, Mourão chamou de “herói” o coronel Brilhante Ustra, um dos
mais notórios torturadores da ditadura.

Mais
tarde, o general disse à revista “Piauí” que vai lançar candidatos
fardados às eleições de outubro. Ele promete pedir votos para o capitão
Jair Bolsonaro, outro defensor do regime autoritário.

Ao
entregar mais poder aos militares, Temer tenta reconquistar o
eleitorado mais à direita. É uma estratégia arriscada, como mostram
vários exemplos na história brasileira. Ontem o general Mourão afirmou
que o presidente precisa ser “expurgado da vida pública”.

Bernardo Mello Franco – O Globo.

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