Nossa Terrinha Santa é cheia de personagens ilustres que contribuíram para nossa história e o nosso folclore, aliás, éramos para ter até um tipo de premio ou homenagem a Cultura Imaterial Terezinhense, certamente uma das famílias que receberiam a honraria seria a família Coco.
O mais conhecido e mais falado é sem dúvida Manoel Bento de Araújo, o saudoso Mané de Coco, que contava suas histórias com tamanha realidade que convencia muita gente, ele já foi até homenageado em uma das edições do João Pedro de Santa Terezinha, numa ornamentação linda, uma estrutura magnífica e uma festa onde a rapaziada toda arrastou o chinelo até a madruga com o forró pé de serra, sem falar que o mesmo foi documentado por Luiz Bargmann Netto da USP (Universidade de São Paulo) em 2011.
Mas na família Coco não era só Mané que aprontava suas prezepadas e contava suas lorotas que faziam todo mundo rir, alias, ele era super bem humorado e sua risada sempre foi bem característica. Seu irmão Artur de Coco não gostava muito de farsas, mas aqui, acolá contava passagens de sua vida que foram engraçadas.
Artur de Coco vez ou outra ficava de juízo virado e por vezes foi preciso interna-lo para que o danado recuperasse sua lucidez. Lúcido, tinha uma história de sua vida que ele sempre nos contava e caíamos na gargalhada.
Artur também era metido a rezador e ganhava os sítios benzendo o povo, tirando mau olhado, afastando mal espírito e até curando feridas brabas. Com tudo isso, ficava ele na esperança de ser recompensado com uma galinha, um quilinho de feijão ou cunha de farinha pra cumê com a famia.
Artur, que tinha a alcunha de Poeta, nos dizia que sempre gostou do comércio e aqui começa o relato da sua história. Quando a coisa melhorava um tiquim, ou quando era tempo de renovar o empréstimo junto ao banco, Artur pegava o dinheiro e montava logo sua barraquinha, mas cansado de quebrar a cara com ela tendo prejuízos, certa vez, lá naquele tempo passado, o danado desistiu da barraquinha, pegou um valor em dinhero e comprou uma briciqueta Monark 82 novinha. Incolocou o resto do dinheiro arranjado no bolso e dandou-se pelos sítios da Terrinha Santa negociando.
Ele contava que de menhã já trocou a briciqueta nova em uma mais veia, a mais veia e três bodes, os bodes em cabritos, os ditos em um jumento. Trocou o jerico em em uma égua celada; tornou o restante do dinhero e parou pra armoçar!
*Willian filho do meu querido padrinho de Crisma *Joca Israel não se aguentava de tanto rir quando Artur contava que no final daquela menhã de telça-fera já com uma fome daquelas, uma muié tava barrendo o terrero em um sítio longe que só a gota e os dois começaro a papear.
A sinhora chamou Artur pra armoçar e o bataiador tacou logo dois pratos de feijão de corda no bucho, misturados com farinha de roça, duas conchinhas de arroz branco, uma taiada de jirimum caboco, toicim de poico, uma banda de rapadura e dois copos d’água pra ajudar a empurrar o cumê. Depois do armaço, mas dois dedim de café pra sacramentar.
Ele contava que de tarde a trocança continuou. A égua celada ele trocou em galinhas, as penosas em farinha, milho, fava e até em gasolina. E assim foi o dia todim até o finazim da tarde quando não tinha mais nada pra trocar, nem dinhero pra comprar e pra completar; ainda saiu devendo umas tornas.
Cansado, suado, as pernas doídas, a cara da cor de carvão, uma priguiça danada, com fome e sede já a boquinha da noite e a pé, lá vem o trabaiador todo desconfiado, sem dinhero, sem os troços, devendo e ainda um dog vira lata lhe acompanhando.
Sua mulher na porta de casa, arrudiada de meninos foi logo fazendo perguntas e a ingresia começou:
👵A mulher,
– Cadê a briciqueta e as coisas Poeta?
👴Artur,
– Dei Fim!
👵A mulher,
– E o dinhero?
👴Artur,
– Gastei!
👵A mulher,
No trouxesse nada?
👴Artur,
Só a baca pra cumé e dispensa pra pagar!
😡😡😡😡😡😡
Então a mulher rodou a baiana e começou a lhe esculhambar: