Na manhã desta segunda-feira (21), o bispo diocesano de Afogados da Ingazeira, Dom Limacêdo Antônio, concedeu entrevista ao programa Rádio Vivo, da Rádio Pajeú, para comentar a morte do Papa Francisco, anunciada durante a madrugada. A notícia, que pegou o mundo de surpresa, foi recebida com pesar e profunda reflexão pelo bispo, que destacou a relevância histórica e espiritual do pontífice argentino.
Para Dom Limacêdo, a partida de Francisco, justamente no período da Oitava de Páscoa, carrega um forte simbolismo. “Um homem pascal, que carregou a cruz com Cristo e ressuscita com Ele. Sua morte neste tempo tem algo a dizer a todos nós”, afirmou.
O bispo recordou momentos marcantes do pontificado, como a primeira decisão de Francisco após ser eleito, quando viajou a Lampedusa, na Itália, para celebrar uma missa em memória de imigrantes mortos tentando atravessar o mar Mediterrâneo. O altar, montado com restos de embarcações naufragadas, foi para Dom Limacêdo um gesto concreto da compaixão e compromisso social do Papa. “Ali ele refletiu sobre o Gênesis, sobre a pergunta que Deus faz: ‘Onde está o teu irmão?’. Francisco sempre viveu essa resposta”, lembrou.
Dom Limacêdo ressaltou ainda o papel do Papa como reformador e profeta para o mundo. “Ele reformou a Igreja, abriu debates antes considerados intocáveis, enfrentou desafios internos com coragem e mostrou que a Igreja precisa escutar o clamor do povo, das famílias, da juventude, dos marginalizados”, disse.
Ao ser questionado sobre os desafios do próximo pontífice, Dom Limacêdo avaliou que será fundamental dar continuidade ao caminho sinodal proposto por Francisco. “A sinodalidade é a essência da Igreja, a capacidade de ouvir e dialogar. Francisco enfrentou isso com coragem, e será necessário alguém que dê continuidade ao que ele iniciou”, declarou.
Destacando o contexto social e político turbulento em que Francisco assumiu o papado, em meio à ascensão de extremismos e retrocessos sociais. Dom Limacêdo refletiu: “Foi exatamente nesse momento difícil que Deus enviou um profeta. Francisco será lembrado não só como Papa da Igreja Católica, mas como profeta para o mundo inteiro. Sua palavra não falava só para os católicos, falava para todos”.
O bispo também recordou o momento histórico vivido durante a pandemia, quando o Papa, sozinho na Praça de São Pedro, dirigiu-se à humanidade. “Ele disse: ‘Vocês não estão sós’. E naquele momento sentimos que também estávamos com ele. Essa sintonia dos filhos com o pai é inesquecível”, disse.
Por fim, Dom Limacêdo ressaltou a coragem do Papa ao promover a inclusão e abrir discussões sobre temas delicados dentro da Igreja. “Ele tocou em questões profundas: a inclusão dos homossexuais, dos casais em segunda união, o debate sobre o diaconato feminino. Ele dizia: ‘Vamos estudar, ouvir, caminhar juntos’. Francisco foi, acima de tudo, um homem cheio de Deus, cheio do Espírito Santo, que falava com o coração e com isso alcançava todos”, concluiu.