Adriano, o nosso ‘João de Deus’ terá alta social do Hospital de Patos, mas seu futuro ainda é incerto.

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Adriano Teixeira Lima, popularmente
conhecido como ‘João de Deus’, vai ter alta social do Complexo
Hospitalar Regional Dep. Janduhy Carneiro de Patos (CHRDJC), na próxima
semana. De alta médica há mais de 15 dias, ele permanece na unidade de
saúde, onde foi internado no dia 30 de agosto último, por decisão da
Justiça que determinou a permanência do paciente, mesmo sem necessidade
de cuidados médicos intensivos, pelo fato dele não ter, até então,
parentes conhecidos, nem apoio de qualquer espécie de órgãos
governamentais. Uma audiência realizada nesta terça-feira (16), na
Promotoria de Justiça de Patos, sob mediação do 3º Promotor de Justiça,
Elmar Thiago Pereira de Alencar, autorizou a alta social e definiu
alguns encaminhamentos.

Mas, essa alta social do hospital,
que significa o começo de uma nova vida para Adriano, está longe de
resolver os problemas dele. Primeiro porque as irmãs dele, Maria Sara da
Conceição e Maria Luciana da Conceição, que foram localizadas graças a
uma reportagem, onde ele revelou detalhes de sua vida, e que também
compareceram a audiência, não têm condições financeiras, nem de
infraestrutura para acolhê-lo onde moram, respectivamente, nos estados
de Alagoas e Piaui. O resto da família, poucos membros, que vivem no
interior alagoano também vivem em condições de extrema vulnerabilidade
social, inclusive, com problemas relacionados a alcoolismo.
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O que fazer então? Diante da
situação, a representante comercial Luciana Pereira, uma das integrantes
da força tarefa que o resgatou das ruas, maltrapilho e muito doente e
que, diariamente, desde sua internação, visita Adriano no Hospital,
dando apoio e cuidados, ofereceu a sua casa para que Adriano e uma de
suas irmãs possam passar os próximos 45 dias até que a situação dele
tenha uma solução definitiva. “Não vi outra alternativa. Fiz isso porque
desde o início me propus a ajudá-lo. É uma questão de humanidade. Sabe
quando você olha para uma pessoa e sente que ela precisa de você, de uma
ajuda, de uma mão amiga. Não tenho muito, mas minha formação cristã não
me deixa ficar omissa diante de uma situação desta”, disse Luciana, que
vai ceder o quarto de um dos filhos, ela tem três, para dar espaço para
Adriano e sua irmã durante esses 45 dias.

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Nesse meio tempo, a Secretária de
Ação Social de Patos, Edjane Barbosa Araújo, que também participou da
audiência no MP, assumiu o compromisso de disponibilizar a rede de
proteção assistencial do município, seja mediante a inclusão em
programas de aluguel social ou de benefício de proteção continuada,
através do CAPs II, e ainda com ações de assistência durante todos os
dias úteis, inclusive, se responsabilizando pelo transporte e
alimentação de Adriano, de segunda a sexta-feira, nos próximos 45 dias, a
contar da data da alta social. Durante esse período, quinzenalmente, a
equipe do CAPs terá que apresentar relatórios a Promotoria sobre as
ações de inclusão e acompanhamento médico de Adriano e no final do prazo
emitir parecer que balizará o encaminhamento do MP, no sentido de
promover uma ação de interdição ou não. Isto porque, Adriano, ainda não
se sabe, mas suspeita-se, apresenta problemas mentais que só exames mais
aprofundados poderão ditar o diagnóstico.


A diretora geral do Hospital,
Liliane Sena, também presente à audiência, confirmou a alta hospitalar
de Adriano e o fato dele não ter mais necessidade de cuidados médicos
intensivos e hospitalares, mas concordou com a permanência dele por mais
uma semana, até a alta social. “Vamos continuar acolhendo-o por mais
esse período. Essa é até uma questão de humanidade”, assegurou Liliane.

Mas, quem pensa que o caso de
Adriano está perto de ter um final feliz. Engana-se. As cicatrizes que
ele agora carrega no corpo, fruto de uma cirurgia que removeu um grande
tumor e boa parte de sua genitália, devem doer tanto quanto às da alma,
pois ele foi uma criança que desde cedo teve que se acostumar com a
ausência da mãe, que morreu de parto quando ele era pequeno, conviveu
com atrocidades praticadas pelo pai, que hoje encontra-se foragido, teve
que se virar desde adolescente para sobreviver, sua família sempre
viveu em grave vulnerabilidade social, parentes que poderia acolhê-lo
sofrem com problemas de alcoolismo, ou seja, Adriano cresceu sem muitos
afetos e acolhimento, sem referencial de pais, e hoje, apesar do carinho
das irmãs, ele não tem um porto seguro, não tem renda, não tem
trabalho, não tem amigos, e a poucos dias, nem sua identidade era
conhecida.

Apesar de calejado pela vida, ele
desenha, tem traços delicados e contornos bem definidos, é educado,
gentil até. A dureza da vida, não fez ele perder a ternura nos gestos.
Com tanto sofrimento, ele ri pouco, muito pouco, por vezes, mantém o
olhar fixo no horizonte como a perguntar o que farei, onde ficarei, como
estarei amanhã, quem estará comigo? Perguntas tão simples para a
maioria das pessoas, mas, que para ele tomam uma proporção diferente e
ainda estão sem respostas a médio e longo prazo. Por enquanto, Luciana,
tocada pelo dom da bondade e amor ao próximo, sentimentos que habitam
pessoas especiais como ela, cedeu a sua casa, abriu o seu lar, para
acolhê-lo nestes primeiros 45 dias fora do hospital. Mas, ela também
precisa de ajuda. O Poder Público precisa fazer a sua parte. E nós, que
integramos essa sociedade por vezes excludente, individualista e, por
que não dizer, insensível, precisamos nos unir em prol dessa causa,
contribuindo de forma coletiva e organizada para ajudá-lo.

Esse meu texto já é parte de minha
contribuição, assim como foi a entrevista que fiz com ele que culminou
na reportagem que possibilitou localizar seus familiares em Alagoas.
Mas, eu quero mais. Vou coordenar junto com Luciana e todos os
voluntários que abraçarem essa causa, uma grande campanha de mobilização
popular para dar condições dele ter um lar, um emprego, assistência
psicológica, condições de se manter dignamente e ser reconhecido e viver
como um cidadão, como bem destaca a Constituição de nosso país, em seus
vários artigos que tratam dos direitos de cada brasileiro. Quem se habilita a caminhar com a gente?


Eliane Sobral

Jornalista e Assessora de Imprensa do CHRDJC

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