Temer: cafezinho gelado, crachá e classificados.

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Suprema
ironia: a exemplo do que fazia Dilma, Temer e seus operadores começam a
esboçar desculpas escoradas em fatores externos. Os Estados Unidos
crescem além do esperado. Para conter a inflação, o banco central
americano eleva os juros. Com isso, investidores que buscavam lucro
fácil em mercados como o brasileiro começam a preferir a segurança dos
papéis americanos, num movimento que sobrevaloriza o dólar. Tudo isso
existe. Mas o que potencializa a crise no Brasil é a presença no
Planalto de um personagem radioativo, com a autoridade estilhaçada e os
aliados em fuga. Um presidente assim fabrica crises, não soluções.

Encurtaram-se
os horizontes de Temer. O próximo presidente será empossado apenas em
1º de janeiro de 2019. Contudo, terá de governar assim que sair o
resultado do segundo tuno das urnas, em 28 de outubro. A nova
administração será compelida a antecipar o esforço para a restauração
dos signos do Poder. O sucessor de Temer terá de agir já na fase de
transição. A crise pode exigir, por exemplo, a antecipação do nome do
futuro ministro da Fazenda.

Quanto
a Temer, terá de se habituar a uma rotina constrangedora. Um presidente
cuja impopularidade roça a margem de erro das pesquisas arrisca-se a
ser barrado pelo porteiro do Planalto, que passará a exigir um crachá.
De volta ao Jaburu, Temer será mordido pelo cachorro da família. Seus
seguranças cairão na gargalhada. Ao acordar, o presidente pedirá um
café. E iniciará a leitura dos jornais pela sessão de empregos. O
advogado tefonará para avisar que o Supremo quebrou o sigilo do boletim
escolar de Michelzinho. No final da manhã, o garçom trará o cafezinho do
presidente. Gelado.

De
resto, o interesse de Temer pela qualidade do sistema prisional do país
tende a aumentar na proporção direta da aproximação do final do seu
mandato.

Por Josias de Souza.

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