Temer disse tudo para Silvio, exceto o essencial.

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Eis a palavra que faltou: C-O-R-R-U-P-Ç-Ã-0.
Houve uma grande ausência na conversa da
noite de domingo entre Michel Temer e Silvio Santos. Faltou uma palavra
mágica, aquela que dispensaria os telespectadores de se perguntarem
sobre o que houve, afinal, com o lendário talento de Temer para
articular maiorias no Congresso. Ele não se gabava de ter presidido a
Câmara três vezes? Não era um PhD em negociação política? Não dava nó em
pingo d’água? Eis a palavra que faltou: C-O-R-R-U-P-Ç-Ã-0.
 
A
conversa foi sobre a necessidade de aprovar a reforma da Previdência no
Legislativo. Ora, qual a causa magna da dificuldade do governo de
arrancar mais essa reforma de parlamentares que já aprovaram o teto de
gastos e a flexibilização da CLT? Resposta: corrupção. Busquem-se os
motivos da má vontade dos congressistas com o governo e, na maioria dos
casos, a resposta está nas denúncias criminais da Procuradoria contra
Temer e os ministros palacianos Moreira Franco e Eliseu Padilha.

Até
o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, um entusiasta da reforma
previdenciária, já disse que a coisa empacou por conta do desgaste que
os deputados sofreram ao enviar para o freezer as denúncias de corrupção
contra Temer e Cia.. Antes das acusações, era grande a chance de o
Planalto prevalecer. Muitos governistas já haviam comprado a tese
segundo a qual o ônus político se converteria em bônus eleitoral, pois
as mexidas na Previdência resultariam num consistente surto de
crescimento econômico.

No
seu esforçou para socorrer o presidente, Silvio Santos disse que os
parlamentares sentaram em cima da reforma para não anabolizar a
musculatura política de Temer. “Não querem encher a empada do
presidente, porque acham que você está fazendo isso para se eleger,
quando não é verdade.” Ai, ai, ai… O que ocorre é algo muito diferente.

O
governo está por baixo. E Temer só não caiu porque seus aliados foram
bem pagos para não derrubá-lo. Depois de arrancar todas as benesses que o
déficit público pode financiar, os governistas alegam que o preço não
incluía a Previdência. De resto, sustentam que já não haveria tempo para
converter ônus em bônus até 7 de outubro, o dia da eleição.

A
presença de Temer num programa de auditório popularesco vale por uma
confissão de impotência política. A certa altura, como que reconhecendo
sua fragilidade no Parlamento, o presidente rogou à plateia que
pressione os deputados. “A Câmara dos Deputados, de alguma maneira,
transmite a vontade popular. Então, é importante que o Brasil inteiro
sensibilize os deputados porque eles representam a vontade popular. E se
a população compreender isso que nós dois estamos dizendo aqui, os
deputados vão lá e depositam seu voto favoravelmente.”

Faltou
dizer por que um governo que se jactava de ter uma maioria gigantesca
na Câmara não consegue juntar os 308 votos de que precisa para aprovar a
emenda constitucional da reforma da Previdência. Falou-se de tudo na
conversa entre Temer e Silvio, menos da verdadeira causa da inanição
legislativa. Como reconhecer diante das câmeras que o governo, do ponto
de vista político, apodreceu?

Com
código de barras na lapela, os membros da banda remunerada da Câmara
foram ao microfone duas vezes para salvar o pescoço de Temer. Voltarão
do recesso parlamentar, depois de auscultar suas bases eleitorais, com a
sensação de que foram muito mal pagos. Mas por que ficar lembrando
essas coisas na conversa com o maior comunicador da TV brasileira?
Melhor realçar a preocupação com o risco de faltar dinheiro para bancar
as aposentadorias.

Para
não perder o hábito, Temer agradeceu a acolhida de Silvio Santos com um
gracejo. “Eu vou fazer agora uma coisa que você faz com suas colegas de
trabalho. Vou passar um dinheiro para você”, disse, puxando do bolso
uma nota de R$ 50. E o apresentador, às gagalhadas: “Ganhei R$ 50!
Ganhei R$ 50!” É como se o vício da compra de apoio perseguisse Temer
até nos momentos de descontração.
Josias de Souza.

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