Joaquim Barbosa garante que Temer não termina o mandato.

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O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa acredita que o impeachment foi
“uma encenação” que fez o país retroceder a um “passado no qual éramos
considerados uma República de Bananas”, e que o governo de Michel Temer
pode não chegar ao fim.

“Aí ela foi substituída por alguém que também não os têm [atributos
para governar], mas que acha que está legitimado pelo fato de ter o
apoio de um grupo de parlamentares vistos pela população com alto grau
de suspeição. Ele [Temer] acha que vai se legitimar. Mas não vai. Não
vai. Esse malaise [mal estar] institucional vai perdurar durante os
próximos dois anos”, disse Joaquim Barbosa à Folha, depois de quase um ano sem dar entrevistas.
“O
Brasil deu um passo para trás gigantesco em 2016. As instituições
democráticas vinham se fortalecendo de maneira consistente nos últimos
30 anos”
“O Brasil deu um passo para trás gigantesco em 2016. As instituições
democráticas vinham se fortalecendo de maneira consistente nos últimos
30 anos. O Brasil nunca tinha vivido um período tão longo de
estabilidade”, comentou na entrevista. 

“E houve uma interrupção brutal desse processo virtuoso. Essa é a
grande perda. O Brasil de certa forma entra num processo de
‘rebananização‘. É como se o país estivesse reatando com um passado no
qual éramos considerados uma República de Bananas. Isso é muito claro.
Basta ver o olhar que o mundo lança sobre o Brasil hoje.”

Joaquim Barbosa já tinha declarado, em publicação nas redes sociais,
que o afastamento de Dilma Rousseff foi um “impeachment
Tabajara”. Tabajara porque aquilo foi uma encenação. Todos os passos já
estavam planejados desde 2015. Aqueles ritos ali [no Congresso] foram
cumpridos apenas formalmente. O que houve foi que um grupo de políticos
que supostamente davam apoio ao governo num determinado momento decidiu
que iriam destituir a presidente. O resto foi pura encenação. Os
argumentos da defesa não eram levados em consideração, nada era pesado e
examinado sob uma ótica dialética.”

“Acuados por acusações graves, eles tinham uma motivação espúria:
impedir a investigação de crimes por eles praticados. Essa encenação
toda foi um véu que se criou para encobrir a real motivação, que
continua válida”, completa o ex-ministro.

Para Joaquim Barbosa, “a sociedade brasileira ainda não acordou para a
fragilidade institucional que se criou quando se mexeu num pilar
fundamental do nosso sistema de governo, que é a Presidência”. “Uma das
consequências mais graves de todo esse processo foi o seu
enfraquecimento. Aquelas lideranças da sociedade que apoiaram com vigor,
muitas vezes com ódio, um ato grave como é o impeachment não tinham
clareza da desestabilização estrutural que ele provoca”, atesta.

Joaquim Barbosa argumenta que as ações do Congresso nesta semana,
inclusive, são “desdobramento do controvertido processo de impeachment,
cujas motivações reais eram espúrias”. “A lógica é a seguinte: se eu
posso derrubar um chefe de Estado, por que não posso intimidar e
encurralar juízes?”

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